POESIA, MUITA POESIA

Monday, November 13, 2006

PASSAGENS



MARIA NAZARETH

O velho rio São João prossegue sua viagem...
As águas passam, passam apressadas,
e os barcos conduzem os homens
com suas redes e sonhos...
As águas passam, passam apressadas...
Marcam o tempo, a vida,
levam mágoas, tristezas,
levam minha solidão.
As águas passam, passam apressadas...
As águas traduzem magia e mistérios
e vão ao encontro do mar...
O velho rio São João prossegue sua viagem...

MOENDA



MARIA NAZARETH

Roda, roda
a moenda
o tempo...

Roda, roda
a moenda
a vida...
Os homens anônimos
labutam no dia a dia...

Roda, roda
a moenda
os sonhos
os amores
a vida...

Roda, roda
a moenda...

PAISAGEM



MARIA NAZARETH

Na praia as garças quebram o silêncio da manhã
meu olhar contempla o azul,
barcos deslizam sobre as águas...
Pescadores de histórias e sonhos.
Na praia as gaivotas quebram o silêncio da tarde
parecem compreender minha solidão,
as garças e as gaivotas bordam de alegria a tarde.
Na praia o silêncio... À noite
meu olhar contempla a lua,
as estrelas, o mar...
Pescadores de sonhos e fantasias
esperam o azul bordado de vida.

OPERÁRIO



MARIA NAZARETH

Acorda às quatro horas
madruga, madruga a vida
pega o trem
leva sonhos
leva desilusões.
O trem leva o suor
do operário
carrega sonhos dos oprimidos.
Meio-dia
almoço na marmita
olha o céu, as nuvens
espreita a moça
que passa faceira
e lembra a mulher
lavadeira, passadeira
que lava sonhos e suor.
À noite só resta a TV
preta e branca
João sonha
que virou patrão
e nega toda a exploração.
Acorda às quatro horas
madruga, madruga a vida.

CONTEMPLAÇÃO



MARIA NAZARETH

Vejo clarões desceram a terra
revestindo o céu de intensa luz
transcendendo a antiga criação.
Vejo raios cortarem o céu na escura noite
na ventania e na intensa chuva
e os homens perplexos diante da tempestade.
Vejo a fúria dos relâmpagos diante da tempestade,
vejo a fúria dos relâmpagos na escura noite
e os homens perplexos diante desse furor.
Vejo os relâmpagos cobrirem a terra
mesclando de fascínio e mistérios
a terra e a humanidade antigas.
Mas vejo Deus que suplanta a criação.

TIRADENTES



MARIA NAZARETH

Para Sônia Peçanha

Vales e montanhas, templos naturais
testemunhas da luta pela liberdade...
Janelas coloniais, balcões repletos de gerânios.
Igrejas e oratórios testemunham a fé.
O tempo faz a História nas ruas de Tiradentes.
Memórias de um tempo tecido nas ladeiras,
nos telhados, no chafariz,
nos portais e sacadas.
O tempo faz a História nas ruas de Tiradentes.
Crianças sem dentes,
crianças do meu Brasil aplaudem: o Dia de Tiradentes.
Vales e montanhas, templos naturais
testemunhas da luta pela liberdade.

OS SEM-TERRA




MARIA NAZARETH

Caminham, caminham
descalços pelas campinas, pelas estradas
dormem em barracas na chuva, na ventania.
Os sem-terra soluçam sua sina
do norte ao sul do país.
A terra dos sem-terra é um sonho e utopia...
A terra dos sem-terra tira o sono
dos corações piedosos e desperta a ira
nos corações egoístas.
A terra dos sem-terra é prometida ao povo,
que não se arrefece dos sonhos...

Saturday, November 04, 2006

INSPIRAÇÃO



MARIA NAZARETH

Minha poesia não tem rima
vem da alma, da realidade,
da natureza, do meu viver e dos sentimentos.
Minha poesia não tem rima
vem do meu olhar sobre os fatos, o tempo,
a natureza e a vida.
Minha poesia é a morada do meu ser,
como uma estrela distante e recôndita,
perdida nos matizes da constelação poética.
Minha poesia não tem rima
e me inspira
e te inspira.

Monday, October 30, 2006

BOEMIA



MARIA NAZARETH

Trago na alma vestígio da noite;
o bar, o copo vazio, a saudade...
Trago na noite vestígio da vida;
o perfume, o olhar, o beijo...
Trago na alma vestígio da noite;
o luar, as estrelas, o encontro...
Trago na manhã vestígios da vida
o amor, o êxtase, a leveza.

Wednesday, October 25, 2006

OLHAR



MARIA NAZARETH

(A Auguste Rodin)

Meu olhar perpassa suas formas:
o movimento
a luz
a liberdade
a vida.
Meu olhar perpassa o instante de
suas formas:
magia
beleza
emoção
paixões...
Meu olhar perpassa suas criações
esculpindo vida no meu olhar.

Wednesday, October 04, 2006

INFÂNCIA



MARIA NAZARETH

Para Nair Mendonça de Souza
(In memoriam)

Toalhas de renda tecem recordações...
Jasmins, dálias, rosas entrelaçam
o perfume no casarão,
entrelaçam a saudade...
- Bênça pai, bênça mãe, bênça vó, bênça vô
e as bênçãos do Senhor enchiam de graças
minha vida.
Toalhas de renda tecem a manhã...
um flamboyant colorido
o barulho do mar, o vento, as campinas,
bem-te-vis, canários, sanhaços afloram
o êxtase de um tempo distante...
Toalhas de renda tecem a saudade...
Cirandas de roda ao luar,
risos, vozes, risos...
E São Jorge a nos contemplar.
Minha mãe contava histórias
e minha vida ficava mais cheia de fantasias...
A mesa posta, as xícaras de porcelana,
as compoteiras de doces, o jarro de flores
meu pai, minha mãe, meu irmão.
Toalhas de renda tecem vida e poesia...

RELÓGIO



MARIA NAZARETH

O relógio é um tear
de sonhos
de vida
de ventura
e desventura.
E nesse tear o tempo
borda o destino dos homens.

SAQUAREMA



MARIA NAZARETH

O mar galopa...
Enovela o tempo na água verde-clara
verde-escura...
Nas ondas galopam:
a liberdade
a beleza
o êxtase.

O mar galopa sobre as pedras
as pedras
o vento
a areia.

O mar galopa...
Lá vai o cavalo-marinho alado
por entre as águas
levando mais um dia de sol.
Tecendo o tempo e a vida.
O mar galopa...
A vida galopa a vida...

CANÇÃO DE OUTONO



MARIA NAZARETH

Chuvas de outono
folhas mortas nas calçadas
o vento frio e a chuva fina
trazem fios de saudade...
Chuvas de outono
vestem a manhã de eterna graça
afloram simples lembranças
acalentam sonhos e desejos.
O sino plange ao longe
e acalenta minha alma solitária.
Chuvas de outono
traçam minha solidão
folhas mortas nas calçadas
esperam uma nova manhã
e vestem a manhã de eternidade.
O sino plange ao longe
e acalenta minha alma solitária.

MORANGOS




MARIA NAZARETH

Para Neusa Peçanha

A colheita...
O amor.
A vida por entre ramagens de morango...
Sola sol.
dia a dia,
vidas amargas,
vidas anônimas,
labutam por entre ramagens de morango,
é preciso ter doces morangos.
Muda a estação,
muda o tempo...
Dor e paixão.

A vida por entre ramagens de morango...